quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Condição de existência.

Um corpo só é real quando pode ser escrito sobre outro.

Estás pensando que é assim, señorita?
Me rouba um beijo no escuro e se esconde no verão?
Não conhece a lei das cargas atrativas no espaço?
E o pares ordenados em pequenas turbulências?
E as retas magricelas sobre as quais equilibramo-nos?
E os pássaros voando ao redor de nossos céus?
O que fará em seguida?
Reclamará o teu pedaço dessa torta hidrostática?
Colorirá as tuas penas com meus astros delirantes?
Romperá o meu silêncio com metáforas elásticas?
(...)?

Você balançou sua cabeça e deixou tudo por um triz.
O misterioso chocolate derretido em tuas mãos
Envolvido e revoltado em pedaços de calor
Tão latente, tão sensível, que parece não haver.

Mas ainda há muitas temperaturas a serem medidas.
E, escavando o solo fértil que se esconde em tua saia,
Catalogo substâncias nunca antes concebidas
E desenho gotas d'água em tua sublime superfície

E tudo que for revelado será diferente de zero.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Cabelos.

'E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.'




é o suficiente por hoje.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Além das luzes dos vasos.

Que este sorriso existe
Não há Deus Sol que duvide
Pois brilha pra todos os lados
E o sorriso brilha de volta.

Que expressa palavras brilhantes
Que vêm dos neurônios excitantes
O caderno não deixa negar
Pois está cheio de brilho e de cor.

O corpo onde mora é real
O mar aprovou o teu gosto
E a pálida areia da praia
Sorri, afundando aos teus pés.

Esse sorriso existe.
E foge da minha miragem.
Se esconde atrás das cortinas mais belas do trópico sul.

E eu vago por todo o Atlântico
Confio nos meus astrolábios
Que cantam cantigas perdidas e fazem amor com o céu.

Que esses lábios e dentes dançantes
Encontrem meu corpo no mar
Me beijem, mastiguem, deglutam.

E que o resto do corpo conduza
Meu ser à pequena circulação
Pois é lá que guardas teu melhor sorriso.

Entre um coração e o outro.

domingo, 4 de setembro de 2011

Rubro.

O silêncio me diz tudo secretamente.

Que o vermelho mais nítido sangra
No pedaço mais frouxo de carne.

Que a demora é a dor de quem sangra
No pedaço mais fundo de carne.

Que o disfarce mais prático sangra
No pedaço mais forte de carne.

Que a verdade mais íntima sangra
No pedaço mais feio da carne.

Que o carnaval desses carnívoros amantes
No coração, se torna festa de facas.

E que a força que nos resta no peito
Chora sangue por já chegar tão fraca.

O silêncio me diz tudo secretamente.

Ao Braço de Outro Menino Jesus quando Appareceo

Se a parte de Deus é o todo
E Deus já me deu sua parte
Espalho-me por toda parte
Até tocarem-me todo

Mas parte de Deus me quer todo
Me come as íntimas partes
E todo esse sangue que parte
É parte de um istmo todo

E feito o concerto, em parte
Causando o pânico todo
Deixaram os cegos sem parte

E Deus, iludido e todo
Já louco com todas as partes
Gastou o meu crédito todo

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Essas bandas.

É tempo de tormenta
E meu coração está
À flor da violeta
Que insiste em roubar
A-cor-do céu.

Te guardo o papel
De loba em pele de cordeiro
Num estranho carrossel
Quem de nós é o primeiro
A desejar que tudo pare por aqui?

Se não és outono, o que será?

domingo, 2 de maio de 2010

Pax romana.

A calçada não tem cor
O cerrado não tem flor
Que afaste a depressão.

Sentimento alicate
Só não fere quem não sabe
Apertar os parafusos.

Um soneto de verdade
Não entende a sua amada
E se finge de doente.

Haverá outra bengala
Que sustente a minha fala
Ante o peso da barriga.

Maquinário obsoleto
Mesmo livre, eu tenho medo
De perder a liberdade. Como num final de livro Seu romance preferido Faz chorar por diversão.

Pax.